quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

É possível que a gente passe grande parte da vida buscando conhecer a si mesmo. Falo por mim, que empenhei grande parte do meu tempo nesses últimos anos, pelo menos os últimos 10 com certeza, buscando entender melhor meu cerne, minha essência. Mas pensando bem, talvez o melhor exercício de auto-conhecimento que podemos fazer em certo ponto da vida, quando ainda não é muito tarde, seja olhar pra trás e rememorar nossa época de criança. Aquele período da nossa infância em que a gente via o mundo com tanta inocência, que tudo parecia cercado de uma aura mágica, e o que a gente mais queria era entender como as coisas funcionavam, sempre através do filtro dos valores que nossos pais estavam tentando nos transmitir.
Se você tem pais tão maravilhosos quantos os meus, deve ter sido uma época cheia de alegria, quando tudo era pintado com as cores do carinho com que éramos embalados todos os dias. Eu tinha certeza que minha mãe era a mulher mais linda que eu já tinha visto, com aqueles olhos azuis tão profundos que me deixavam hipnotizada. Achava meu pai o mais descolado, com seus discos de rock, ou ouvindo Zé Ramalho e tomando cerveja perto do quadro do Charles Chaplin. Minhas avós, é claro, era feita de algodão doce e brigadeiro, de tão amorosas! E meu avô era o homem mais bondoso da face da Terra, a presença de toda sabedoria que alguém podia ter! Era também com esse olhar de ternura que pensava no meu irmão, mais novo do que eu, como uma pessoinha que também era minha. Afinal, eu era a irmã mais velha e tinha que cuidar dele! Era tudo tão bom, todo mundo era tão legal, que cada pessoa trazia uma alegria diferente, uma empolgação, só de estar por perto.
E os dramas da vida de criança eram os mais inusitados: esperar mamãe chegar da escola sentada na escada, naquelas horas intermináveis que não passavam nunca! Pedir pro papai pra ir na casa da Dindinha e não saber se ele deixaria. Sofrer por antecipação pelo ralado na perna daquele tombo de bicicleta que ia arder pra caramba na hora do banho. Ficar ansioso a tarde inteira pra saber se de noite a gente poderia dormir na sala pra ver TV até tarde.
Aí você para e pensa: o que daquela criança ainda existe em mim? Provavelmente muita coisa... Ainda acho que minha mãe é a mulher mais linda do  mundo, que meu pai é o cara mais descolado, que minha avó Maria, que já se foi, era feita sim de algodão doce, e provavelmente minha vó Zinha é feita de brigadeiro, e que certamente meu avô Flávio, que me deixou há tão pouco tempo, foi sem sombra de dúvidas o homem mais bondoso da face da Terra. Quanto ao meu irmão, ele realmente é uma pessoinha que também é minha, e eu faço questão de cuidar dele até mesmo quando formos dois velhinhos rabugentos.
Só não consigo achar mais que todo mundo é assim tão legal. Mas isso, eu acho, não era a Danielle criança que era muito inocente, é que as pessoas eram realmente mais legais com ela, afinal ela era só uma menina pequena.
E quanto aos dramas da vida, eles ficaram mais difíceis de manejar, maiores, mais pesados, mas eu também fiquei mais forte. Aprendi que uma menininha chorona não teria chance nesse mundo, e dei um jeito de tentar entender que você tem que escolher bem pelo que você vai sofrer. E aí que entra o auto-conhecimento, o desejo de se conhecer: você só vai saber pelo que deve chorar, se lamentar ou lutar com unhas e dentes se entender o que é realmente importante pra você.

Quanto àquela garotinha, eu deixo que ela venha à tona em alguns momentos, mas ela entende que o melhor lugar pra ela é nas doces e nostálgicas lembranças da infância.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

É nesses dias de primavera, quando o sol está se pondo e as luzes da rua começam a serem acesas, que eu sinto que poderia estar em qualquer lugar, inclusive aqui mesmo, e me sentir feliz. Meu momento preferido em épocas como essas, aquele instante em que você olha pela janela e simplesmente está exatamente onde queria, e acha que o mundo poderia acabar ali mesmo, e seu peito fica ligeiramente apertado, de uma melancolia quase boa.


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ontem, cheguei a uma conclusão daquelas óbvias e súbitas, fruto das já corriqueiras auto-análises espontâneas cuja ocorrência foge do meu controle: eu julgo as pessoas a partir do que eu acho que elas pensam de mim.
Uma atitude obviamente imatura, e potencialmente problemática. Basta imaginar que qualquer pequeno erro de julgamento pode se transformar numa grande tragédia no que diz respeito a interações sociais. Talvez esse seja o principal motivo para, em análises retrospectivas ao fim do dia, me perceber por vezes tão deslocada ou equivocada, quando na hora tudo parecia tão simples e claro.
A explicação é simples: se nossa própria percepção pode mudar ao longo do tempo, imagina a maneira como imaginamos projetar nossa imagem. E mais do que isso, muitas vezes sequer temos consciência de nós mesmos, ou estamos ocupados demais sendo espontâneos, para nos preocuparmos com o que quer que seja que "os outros" estejam pensando a nosso respeito. Na luta entre a espontaneidade e o comedimento, parece que os dias são feitos de autenticidade e as noites são feitas de auto - avaliações. Uma eterna busca por equilíbrio, e a já velha batalha pela maturidade. 
Hoje, novas velhas percepções me cercaram: a minha dificuldade em aceitar certas atitudes que considero condenáveis em pessoas que até então eu tinha em alta conta. Isso só mostra mais um pouco do meu já famoso hábito de julgar os que me rodeiam. Mas vamos e venhamos, quem nunca? De certo, há os que simplesmente não se importam, ou os que somente são realmente muito nobres pra julgar quem quer que seja. Mas eu não me encaixo em nenhuma das situações: se você é importante pra mim, sinto muito, mas suas atitudes vão ser o meu norte pra eu ter qualquer conclusão a seu respeito. Então, sim, isso é um tipo de julgamento.
O mais difícil, porém, dessa história toda é que, por mais que eu julgue, discorde, fique incomodada com atitudes e comportamentos das pessoas ao meu redor, as minhas conclusões são só minhas. E são perfeitamente passíveis de mudanças, assim como cada indivíduo o é. Uma das coisas que aprendi com o tempo é que tudo isso - julgamentos, críticas e opiniões - exige energia demais e reflexão demais para que eu simplesmente comprometa meu tempo e meus esforços de maneira leviana. Seja realizando, até inconscientemente, essas análises (que todos nós fazemos, mesmo que em diferentes níveis), seja partilhando-as indiscriminadamente. O que me falta, muitas vezes, é aquele bom e velho cúmplice. Que entende minhas implicâncias, que ouve meus argumentos e, depois de aguentar o bom e velho choramingo, simplesmente me mostra que as pessoas não são assim tão ruins.

quinta-feira, 13 de março de 2014

A alguns minutos de completar 2.8, parei na frente do espelho por nenhum motivo especial e notei como meus cabelos brancos estão evidentes. Aliás, a bem da verdade chamá-los de brancos é eufemismo. Eles são prateados, brilhantes e aparecidos no meio da cabeleira preta de que eu sempre me orgulhei. Não me leve a mal, não se trata de uma crise de aniversário, é que me impressionou como esses fios indiscretos se multiplicaram nos últimos 365 dias. Sinal de sabedoria, diz o namorado querendo agradar. Sinal dos tempos, dizem os engraçadinhos de plantão. Sinal de que a genética é implacável, penso eu, que sempre achei divertido contar pros outros que nasci com uma mecha de cabelos brancos, mas agora to achando que já deu!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013



O amor e a fé são elementos muito semelhantes. Não obstante, são comumente citados de forma conjunta. Parece ser consenso que ambos precisam ser construídos, cultivados. E também é bem claro que nenhum deles pode ser forçado, embora nem sempre as pessoas se lembrem disso. Assim como da fé, do amor são esperados grandes gestos, mas é nas pequenas coisas que eles realmente se manifestam. Pode haver sim momentos de arrebatamento, qualquer um que se apaixonou sabe disso, assim como qualquer um que tenha presenciado uma grande manifestação de fé e Grandeza Divina. A plenitude, porém, tanto da fé quanto do amor, se mostra aos poucos, e preenche espaços dos seus pensamentos e dos seus sentimentos que sequer eram percebidos. Cada dia é uma descoberta, e cada descoberta traz grande satisfação. E do mesmo jeito existem também seus tropeços e contradições, momentos de dúvida e aflição. Tentar fugir dessa realidade, forçar uma perfeição que é, no fim das contas, inatingível, só torna as relações, seja entre as pessoas e seus semelhantes, ou entre elas e sua fé, mais frágeis e suscetíveis a uma ruptura irreparável. Permitir-se momentos de insegurança, mas não sucumbir a eles, faz parte das difíceis tarefas de amar e de crer. E vale o esforço.
Pra falar em termos teológicos, acredito que o primeiro Dom que Deus nos Deus foi o Dom da Vida, e, a só partir dele, podemos exercer o Dom do Amor. Portanto, bendigamos a Deus todos os dias por isso, tenhamos fé e nos amemos sempre!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

- Você mergulhou de cabeça nisso e ta deixando a sua própria vida de lado!
- Mas mãe! Acho que eu faço isso desde que tava na sua barriga!
Sim, minha mãe estava certa. Como sempre está, na questões mais importantes. Aliás, ela só erra quando resolver deixar de lado o próprio bem-estar pra cuidar dos outros. Daí se vê que esse mergulhar de cabeça a que ela se refere (e diz respeito a problemas familiares que vão além da minha alçada e eu tento controlar) não começou comigo, eu tenho a quem puxar, afinal de contas.
Ela é minha mãe, se preocupa com meu futuro:
- Você não estuda mais, e a gente já ta em maio!
Sim, o medo dela também é meu: adiar por mais um ano meus planos. Romanticamente ela chegou até a falar em abrir mão dos meus sonhos.
Mas pra que existem os sonhos, se a gente não puder abrir mão deles por algo que a gente julgue mais importante? Pra nos tornar escravos das nossas idealizações? Ou mesmo nos fazer perseguir pseudo-objetivos mais baseados em devaneios que em verdadeiras metas de realização.
Minha mãe mesmo foi um exemplo de abdicação e reformulação dos próprios sonhos. E aposto que ela não se arrepende de ter feito os sacrifícios que fez. A cada vez que o celular toca, com a música que foi usada na entrada da minha colação de grau, eu tenho certeza de que ela sabe que tomou as decisões corretas.
E eu espero que ela saiba: que eu não mudei totalmente de caminho, só fiz um desvio; que foi ela quem me mostrou que família sempre é prioridade; que ninguém perde por se dedicar a pessoas que realmente merecem; e que nunca nenhum sonho, meta, objetivo ou desejo vai ser mais importante do que saber que eu fiz tudo que podia ou devia por ela, meu pai e meu irmão.

(E mais uma vez tentei abolir o filtro e a autocrítica, e escrever o que precisava ser escrito. Agora eu acho que eu durmo.)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A sensação é de que somos todos reféns. Reféns dessa constante dúvida, dessa situação suspensa. E escrever parece não ajudar muito, não quero falar sobre o assunto. Não vejo, porém, alternativa. Não gosto de drama no que diz respeito a saúde, não gosto de encarar nenhuma doença como condenação, não quero enxergar a coisa toda como tabu. Mas não quero falar disso.
Só que, bem, não há como fugir. É uma preocupação constante, e ocupa a maior parte dos meus pensamentos, na maior parte do tempo, onde quer que eu esteja.
Será que, justamente por ser médica, não deveria ser o contrário? Talvez não... Talvez seja exatamente a minha profissão a causa dessa obsessão. Vou dormir como se estivesse num plantão, esperando pra chegar logo a manhã sem nenhuma intercorrência. Claro que às vezes o cansaço fala mais alto, e eu simplesmente me desligo. Também me esforço pra me distrair em algumas situações. Mas é só chegar alguma relato de alguma complicação a mais que meu sistema de alerta liga de novo. A verdade é que eu preciso aprender a lidar com tudo isso de forma mais natural. Confiar, não só nos meus colegas, mas também na minha família, e, por que não, na minha própria Fé. Cobrar menos de mim mesma e aceitar que tudo está sendo feito.
Nunca um post soou pra mim tanto como um desabafo, e também uma grande exposição. Mas sinto que isso seja necessário, até como um pedido de ajuda pra sabe-se lá quem, ou simplesmente mais uma auto-análise que me permite perceber que não, isso não depende diretamente de mim, é muito maior que eu. Não vai ser meu desgaste físico ou psicológico que vai resolver.
Quem sabe assim o sono venha essa noite.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A sensação é de uma cócega incômoda na cabeça. Difícil de descrever, mas acho que o sentimento é de raiva. Uma lenta e fumegante raiva, que só me permite pensar em palavras desconexas: estúpido, incompetente, charlatão...
Não é tão ruim quando se metem no seu trabalho apenas pelo prazer de te irritar? Questionam sua conduta, não pelo bem do paciente, mas porque não conseguem achar um jeito mais criativo de sentir prazer? Não sei o que leva uma pessoa a tentar praticar a medicina sem ser médico.
Enfim, nem vale a pena entrar no mérito de uma questão tão absurda. Mas é bom desabafar, e voltar à minha sexta a noite sem pensar mais nessas coisas.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A felicidade empreguiça a gente (essa palavra existe? - segundo o Google, existe sim!).
É assim, sempre foi e sempre será.
Mas não há mal nenhum nisso: se você tem preguiça de sofrer e se angustiar por qualquer coisa, sobra mais tempo pra ser feliz.
Parece sem sentido, parece frase de facebook, mas funciona que é uma beleza.
Simplificar sempre foi a chave de tudo.
Ainda bem que descobri a tempo!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Então quer dizer que essa sensação de felicidade não te ajuda a escrever coisa nenhuma? Apenas as inquietudes dos sentimentos incompletos e das situações incômodas são capazes de servir de inspiração? Parece até que todas as questões já levantadas não existem mais, e as pessoas que tanto incomodavam simplesmente passaram a agir de maneira coerente e dentro dos limites da normalidade. Será isso, ou os limites do que você considera normal se expandiram? Ou ainda, você apenas deixou de se importar com tudo isso?
Bem, as indagações continuam aí, e ganharam novas companheiras... Não é porque o mundo gira de maneira mais agradável que o se tornou instantaneamente melhor. É você que mudou.
E debitar essas transformações que tem ocorrido até então na conta de um único ser-humano, com quem você tem convivido há tão pouco tempo, não me parece muito sensato. Aliás, não me parece muito certo.
Vamos lá, pense bem. Não é preciso voltar ao mais do mesmo das lamentações, da irritação e da impaciência. Você pode sim ser uma pessoa mais tolerante, se concentrar mais em si mesma e ignorar as incongruências alheias. Isso tudo pode fazer parte de um crescimento pessoal, e você pode sim ter a ajuda de uma pessoa nova em sua vida. Pode, inclusive, ter a ajuda das outras pessoas que já faziam parte do seu convívio. Aquelas que te suportaram nos momentos mais complicados, que te apoiaram quando foi preciso, ou até te deram aquele puxão de orelha tão necessário quando você passou dos limites.
Você só deve se lembrar do seguinte: no final de tudo, é com você, e mais ninguém.
Existe a imensa sorte, é claro, de sempre se ter alguém com que contar: família, amizade, amor... E não há porque ser tolo a ponto de se ignorar isso. Mas quando se apaga a luz pra dormir e sua principal companhia são seus próprios pensamentos, é preciso suportá-los e até gostar deles.
Então, seja inteligente, não cometa os mesmos erros. Aproveite o que há de melhor pra se aproveitar, faça bom uso dos momentos de alegria e felicidade, e se permita até uma moderada, mas bem moderada, dose de euforia. Só não permita, nunca, que te roubem a identidade, que te tirem o foco e te afastem dos seus princípios.
Ah, e agradeça a Deus todos os dias por poder usar a companhia dos outros pra se tornar uma pessoa melhor... assim, naqueles momentos em que a sua única companhia for você mesma, você vai poder apreciar sem moderação.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O Monstro

Eu tenho um Monstro. Um Monstro simplesmente mau. Já falei dele aqui, inocente como era, achando que era pouca coisa, bobeira... Quase uma parte da minha personalidade, como todo mundo pensa dos piores defeitos quando não se dispõe a melhorar e pretende ser aceito de qualquer forma.
Acontece, porém, que meu Monstro não é assim tão inofensivo. Ele faz muito mal, principalmente a mim mesma. Eu achava que ele se alimentava das atitudes dos outros, dos absurdos alheios, mas acontece que se hoje ele, que era um monstrinho, abandonou o diminutivo e ganhou uma letra maiúscula no começo do nome, foi por minha causa. Foi do meu constante e diário sentimento de raiva que ele se banqueteou. Uma raiva latente, manejada a muito custo.
Quando vim do plantão pensando em escrever sobre isso pensei: "Ah, mas minha raiva tem um combustível, a estupidez dos outros!". Mas acontece que as pessoas sempre serão estúpidas. É uma triste constatação, perceber o quão ridícula a humanidade pode ser. E é uma senhora pretensão a minha querer determinar quem é e quem não é ridículo, enfim... Claro que há situações óbvias, aquelas nas quais ninguém ia me condenar se eu virasse pro indivíduo em questão e falasse: "Você quer me fazer o favor de calar essa sua boca e se conscientizar da própria imbecilidade?".Só que nós temos dois problemas em situações como essa: raramente elas são testemunhadas, quem dirá por uma terceira pessoa de bom-senso, e não é de bom tom dizer ao asno que ele é asno, se ele acha que ele é um garanhão, seja porque ele não vai entender, seja por ser falta de educação mesmo.
A verdade é que a ira precisa ser contida, custe o que custar. Escrever ajuda. Ouvir música, dirigir, pedalar... Há um milhão de recursos, todos aí prontos pra te ajudar a ser uma "pessoa melhor". Fazer piada das situações pode ser útil, se você tiver talento (e nem sempre isso é necessário) pode se aventurar no mundo da comédia stand-up. Outra coisa que pode facilitar é que algumas pessoas ao seu redor se acostumem e te permitam breves momentos para extravasar toda essa raiva sem censura. Sim, porque se você puder ser apenas ocasionalmente mau-humorado, chamar algumas selecionadas pessoas de imbecis, fica mais fácil, e pro resto do mundo você volta a ser convenientemente bem educado, não necessariamente uma simpatia, mas pelo menos alguém fácil de lidar. Até porque não tem nada mais pedante do que alguém que se irrita com tudo e acha que todo mundo é um pé no saco.


Só pra ilustrar como música pode ser de grande ajuda:


domingo, 1 de janeiro de 2012

Não, essa foto não foi feita com a câmera que eu xinguei...
Começo 2012, como sempre, sem grandes resoluções. Até porque se uma dessas resoluções fosse, por exemplo, xingar menos, teria ido por água abaixo com pouco mais de dez minutos ("Essa câmera ta um c*!!!").
Continuo acreditando no amadurecimento gradual, tentando me tornar uma pessoa cada vez melhor a cada dia que passa. Devo aceitar, porém, uma decisão: ser mais firme e lutar mais pelo que eu quero, e acelerar os passos dos meus objetivos. Não é uma resolução, é a constatação de uma necessidade.



Feliz Ano Novo pra todo mundo!!!

sábado, 8 de outubro de 2011

Qualquer ser humano que trabalhe tem direito de reclamar da exaustão do serviço. O dia foi corrido no escritório, foi puxado na escola, cheio de problemas no comércio.
Agora, se um médico reclama que cansou, que o plantão exigiu demais, que um caso foi complicado, é obrigado a ouvir: "Mas você tá reclamando por quê? Você que escolheu ser médico, agora aguenta!"
Aí eu te pergunto: por acaso também não somos seres humanos? Essa mistificação da Medicina está adquirindo magnitudes estapafúrdias de super-profissão. A cobrança é progressiva, enquanto o reconhecimento é escasso. Cada vez mais vemos pessoas que nos enxergam como seus empregados, simplesmente porque pagam pelo plano de saúde, e acham que o respeito ao médico é uma demonstração de provincianismo. Paciente inteligente é paciente que consultou o Dr. Google antes de ir pra consulta, que testa o conhecimento do médico e decora detalhadamente os termos técnicos da sua provável doença. Sim, porque paciente "antenado" já sabe o que tem, e só procura o doutor (que nem doutor é, porque nem doutorado deve ter, vou chamá-lo pelo primeiro nome mesmo!) pra pegar a guia do plano, ou o pedido do SUS, pra fazer os exames que quer. Parece contraditório: por um lado, querem despir a Medicina do suposto glamour (que sempre foi ilusório, mas enfim) e afirmar que os salários médicos são abusivos; por outro, querem profissionais cada vez mais eficientes e gabaritados, em rotinas cada vez mais exaustivas.
Não me entendam mal, amo minha profissão. Eu realmente escolhi o meu caminho, e tenho orgulho de falar que batalhei cada dia e ainda vou batalhar muitos mais pra conseguir exercer a Medicina da forma que eu aprendi com grandes mestres na Universidade e com o respeito pelo próximo e por mim mesma que aprendi a cultivar ao longo da minha humilde vida profissional que, assim espero, está só começando. Apenas precisava desabafar, precisava por "no papel" esse esboço de manifesto pelo valorização, não do profissional médico, mas de todo e qualquer profissional que exerce suas funções com competência, como muitos de nós exercemos, e ainda assim sofre todos os tipos de pressão.
Vou ficando por aqui, pois não consegui pensar num desfecho pro assunto. Talvez porque simplesmente esse assunto ainda não tenha desfecho.

domingo, 4 de setembro de 2011

Mas o que aconteceu com você? Por que você está assim? Essa inquietação, esse suor frio... Não é gastrite, embora o estômago doa. Não é nada orgânico, e você sabe disso.
Que sensação é essa? No início ele chegou a te enganar, não foi? Parecia uma parestesia sentimental, uma anergia inexplicável. Você se sentiu alheia a tudo, distante.
Mas aí as coisas aconteceram e você caiu de para-quedas numa situação ruim: querer e não ter, e não saber o que fazer. Então percebeu que esse incômodo sem nome tem, na verdade, dois nomes: ansiedade e insatisfação. Nada comparado aos males auto-infligidos da época de subjetividade e prolixidade. A insatisfação bem específica, com um alvo bem marcado. Já a ansiedade não tem muito foco, é ansiedade e ponto. Improdutiva, opressora, patológica. Não te deixa nem escrever direito.
Insatisfação é insatisfação, você já passou por isso antes e sabe que não é o fim do mundo. Mas a ansiedade... é um desses fantasmas dos quais você tanto evitou falar. Você sabe que não vai poder lidar com isso sozinha, então vá em frente, peça ajuda, porque você vai precisar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

E se estamos falando em auto-conhecimento, convenhamos que o mais difiícil ainda está por vir. A superfície mal começou a ser arranhada, ainda há muito por cavar. Os assuntos mais dolorosos foram displicentemente deixados de lado, só os medos mais fáceis foram encarados. Ou será que eu estou exagerando?
Creio que não. É só olhar pra trás e observar que apenas os fantasmas infantis, ou aqueles bem controlados, foram expostos. Só as sensações inquietantes foram exploradas. Mas o pavor, a desesperança, ficaram escondidos sob o disfarce da ansiedade.
Claro, ansiedade rende o que escrever, e é uma parte tão intrínseca de mim, tão conhecida, que nem assusta tanto mais. É como um daqueles defeitos que, quando bem controlados, viram apenas um traço da personalidade. Mas e o resto?
Agora mesmo, isso tudo e nem sinal de algo mais profundo e doloroso.
Mas de fechar os olhos eu já sei o que mais me intimidou neste ano. A sensação de impotência, a dúvida, a falta de fé em mim mesma. Aquela hora em que tudo desaba, foge do seu controle, e você se pergunta onde poderia ter feito diferente. A resposta é óbvia: nada deveria ter sido diferente, você fez tudo o que deveria ter feito, tudo que era correto fazer, levando em conta, inclusive, a não-maleficiência. Mas ainda assim, a perda parece ser toda sua, e por mais que todos te isentem da culpa, o peso persiste. E as noites são em claro, e o choro não sai. Você perdeu seu primeiro paciente. Nunca vai se esquecer. Não será o único, mas terá sido o pior. E só agora, meses depois, é possível olhar com calma o quadro e lembrar uma coisa importante: trabalhar a favor da vida não significa protelar a morte indeterminadamente. Mas nada, nunca, em lugar nenhum vai fazer diminiur o nó na garganta.
Esse é um dos meus temores adultos e sinceros: o de não ter o que fazer, e correr o risco de perder a fé em mim mesma. E eu tenho que enfretá-lo sozinha.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Conhece-te a ti mesmo.

- Você precisa ler tal livro, mudou a minha vida!
- Ah, é?! É como a história?
- Bom, é um livro de auto-ajuda. Ensina como controlar...
Pronto! Falou auto-ajuda, ou que o livro "ensina" qualquer coisa, dá aquela vontade de interromper a pessoa e falar:
- Não continua. Não leio isso.
Claro que a educação não deixa. E também é claro que eu logo tento mudar de assunto, ou, em certos casos, agradeço a dica mas explico que não é muito minha praia.
Só que...! Bom, eis que eu tenho lido e relido alguns dos posts aqui publicados. E eis que tenho percebido o teor de auto-ajuda que eles possuem. A princípio pensei de mim mesma: "Hipócrita!". Depois, reconsiderei.
A auto-ajuda aqui, é minha auto-ajuda, no sentido estrito da coisa. Sou eu ajudando a mim mesma a me tornar aquilo que eu julgo justo e honesto. Tentando agir sempre de maneira coerente, enxergando mais de mim. A auto-ajuda, na verdade, é auto-análise, e busca por auto-conhecimento.
Aí eu pergunto: como auto-ajuda pode vir de uma fórmula pronta, como tantos pregam (e vendem) por aí? A busca pelo conhecimento de si mesmo não pode ser enlatada, nem simplificada. É um caminho difícil, por vezes doloroso, e sem volta.
Começar a ter consciência da própria condição, seja ela qual for, incorporando todas as complexidades que representam cada indivíduo, é algo irreversível. Uma vez que você se olha no espelho e fala: "essa sou eu", e observa cada detalhe, físico, psíquico, espiritual seu, não há como fechar os olhos para o que se acabou de descobrir. É como tirar uma venda, olhar a paisagem e recolocar a venda: você pode até fingir que voltou a não enxergar, mas o que viu ficou marcado, e você vai querer olhar de novo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Os Super-Legais

Quando você conhece um super-legal, o encantamento é imediato. Independente do tipo de relacionamento, você vai achar que ele é o seu melhor amigo, ou o amor da sua vida, ou a pessoa que mais te entende nesse mundo. Identificação é a palavra chave. O super-legal vai te ouvir pacientemente, te dizer coisas geniais, você vai se sentir especial, como se não houvesse no mundo pessoa que te fizesse sentir melhor.
O super-legal sempre é educado e cativante, engraçado e com um senso de humor sob medida pra você.
Pronto. Agora você vai achar que ele age assim com você por mil motivos, mas nunca vai imaginar que esse é o comportamento padrão dele, nunca vai pensar que ele é gente boa até o fim com todo mundo. E, quando perceber isso, vai se sentir meio idiota. Nunca a culpa vai ser dele, sempre vai ser sua, que pensou mais do que devia, que imaginou mais do que havia de real.
E o difícil é que há diferentes tipos de super-legais. Há os bem intencionados, os mal intencionados e os sem intenção nenhuma (a maior parte da minha amostragem). Mas a verdade é que você dificilmente descobre qual é qual.
Para os super-ansiosos, como eu, lidar com um super-legal é sempre complicado, porque depois da primeira experiência com um espécime do tipo, eu nunca sei onde estou pisando quando conheço um super-legal, sempre fico desconfiada, mas nunca deixo de me envolver, porque é quase impossível resistir a um super-legal.
Se você conhece um, sabe do que eu estou falando. Se você não conhece, lembre-se sempre: "Tanto clichê deve não ser." Mas se for, sorte sua, você acabou de chegar ao seu Último Romance.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Abandono geral.
Mas é porque a gente chega a imaginar que a inquietações aquietaram e não colaboram com nem mais uma linha pra ser escrita.
Depois, a gente percebe que as inquietações persistem, só que elas agora só inquietam, não angustiam tanto.
É claro que, num ponto como esse em que eu estou hoje, a ansiedade volta a dar as caras e incomodar. E quando eu falo num ponto eu quero dizer: tentando definir um rumo profissional, aprendendo a lidar com responsabilidades financeiras e incompatibilidades de planos dentro de casa, na iminência de uma das férias mais esperadas da minha vida, e com muita (mas muita) vontade de seguir em frente.
Claro que o lado profissional-acadêmico-familiar-social da situação resume quase a coisa toda, mas sempre tem algo a mais. Algo em que eu não pretendo me concentrar, por simplesmente não trazer muito retorno por enquanto.
Então vamos lá, uma coisa de cada vez.

"Chega um ponto que eu sinto que eu pressinto
Lá dentro, não do corpo, mas lá dentro-fora
No coração e no sol, no meu peito eu sinto
Na estrela, na testa, eu farejo em todo o universo
Que eu to vivo
Que eu to vivo
Que eu to vivo, vivo, vivo como uma rocha
E eu não pergunto
Porque já sei que a vida não é uma resposta
E se eu aconteço aqui
se deve ao fato de eu
simplesmente ser!"
(Todo mundo explica - Raul Seixas)

Temos caminhado, e assim continuemos.


[Um clichezão eterno e verdadeiro. rs!]

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Então morreu Saramago, e eu fiquei triste. Fernando Meirelles falou que o mundo ficou mais burro, mas disso eu já não sei. Da obra de Saramago também sei pouco (meu conhecimento se resume a dois livros "e meio"), mas sou tiete de sua maneira de escrever. "Implagiável" eu diria, se essa palavra existisse (ainda bem que não existe, pois é uma palavra bem feia).
E tudo isso eu digo, não pra ser apenas mais um obituário de uma figura notória feito por uma figura anônima, como tantos que figuram por aí, mas pra citar meu pai, tão anônimo quanto eu pra todo mundo, e tão notório quanto Saramago pra mim. Pois ele me veio com a observação seguinte: a maioria dos grandes escritores aparenta uma serenidade acima do normal até o fim dos seus dias. Pudera. Invejo eu a capacidade que todos eles tiveram, ao longo de suas vidas, de transportar suas inquietações pras suas obras e, ainda bem, aparecer com novas e novas inquietações, e nunca parar de escrever.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Embolismos

Em algum momento da noite, você pensa em pedir pra sua amiga te impedir de fazer qualquer tipo de contato com o meio externo. E em algumas vezes chega mesmo a pedir. Você conhece a própria condição, e sabe que não é a pessoa mais eloquente do momento, é melhor que seja impedida agora, antes que ultrapasse o limite do senso do ridículo.
Mas a sua amiga, ou qualquer outor indivíduo previamente encarregado de zelar pelo bem-estar da sua imagem, não cumpre idealmente a sua função. Essa pessoa abençoada pode estar no mesmo nível cognitivo que você, e te induz não só a manter contato com o meio externo, como diz que você tem que expressar o que pensa.
Como se você ainda pensasse a essa altura da situação... E o pior é que você entra na pilha.
E fica cheio de razão. Diz o que acha que pensa e o que acha que deve, mete os pé pelas mãos. E ainda é apaludido por aquele ser previamente designado pra evitar tudo isso.
Pobre dia seguinte, quando tudo vem às claras e você percebe (ou te fazem perceber) que você falou ou fez mais (ou menos) do que devia! Jura pra si mesmo que isso nunca mais vai se repetir!
Mas no fundo, escondido de todo mundo (até de você mesmo), você pensa que valeu a pena. Afinal, as boas histórias não são boas exatamente na hora que acontecem, e se não fosse a noite passada, você não teria mais uma história para contar...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cântico dos Cânticos

Seja por Profetas de Rodoviárias ou Evagelistas de Salões de Beleza, os Oráculos do Senhor teimam em me abordar. Teimam não, insistem. Teimo eu em não ouvir o que eles dizem. Vez por outra há uma nova mensagem, um aviso, uma Boa Nova.
A Anunciação trabalhava por meios mais ortodoxos nos tempos bíblicos, mas imagino que o Senhor achou melhor agir por todos os meios possíveis e se aproximar dos filhos ingratos como eu de um modo não convencional.
A coisa boa disso tudo é que sempre há uma chance retornar à Casa do Pai e tentar ser cada vez melhor, tentar me aproximar cada vez mais do que a minha fé me leva a querer ser.
Fé essa heterodoxa e não tão congruente como eu gostaria, parece que está sempre em construção. Mas essa é uma característica tão minha, que acredito que os Céus sejam compreensivos comigo.
Aguardo as realizações por vir, o que me foi prometido diante de um espelho rodeado de luzes, onde um rosto maquiado sorria feliz de volta pra mim.

do muito que ficou

É uma busca essa coisa da Felicidade. E em alguns momentos tudo fica mais palpável, mais consistente. Esses últimos dias têm sido assim. E não é só pela festa, sete horas foram pouco pra seis anos. É pela sensação de dever cumprido, pelas certezas que só os desfechos trazem, pelo saudosismo conivente que nos faz pensar que todos somos ótimos e nos faz esquecer nossos defeitos e descompassos.
E é generosa a Felicidade. Não liga se for confundida com a alegria e a empolgação, chega a pensar que é composta pelas últimas, e que os arroubos podem ser parte integrante dos momentos mais felizes.
Ela também não se importa em vir acompanhada da Saudade, o que parece um paradoxo, já que às vezes a Saudade dói tanto quanto ou mais que a tristeza. Mas as duas não precisam ser iguais. A saudade, ao contrário da tristeza, não precisa ser opressiva, pode ser apenas envolvente. Saudade com tristeza é melancolia, nos impede se seguir, nos aprisiona. Saudade com alegria e felicidade nos impulsiona, é o prazer pelo que passou, o desejo do reencontro e a satisfação em saber que o que somos hoje devemos àqueles de quem sentimos falta. Pois se a ausência é falta, há um excelente motivo pra que seja assim.
E mesmo que uma parte de nós pareça ficar pra trás, não devemos nos preocupar, pois levamos conosco muito daqueles de quem nos afastamos, e isso só é clichê porque é verdade. Aprendemos a nos doar, a ser felizes acompanhados, mas sabemos que sobreviveremos em nossa própria companhia, porque nunca mais ficaremos sozinhos.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ela falou primeiro com o que estava a sua direita:

- Você! – ela apontou – De todas as minhas satisfações e frustrações, você foi o pior e o melhor, o mais intenso que podia haver. Surpreendentemente, seu saldo foi positivo, mas foi bom que tenha terminado. Aquela bagunça toda era desgastante. Pronto, era só isso. Você já pode ir.

- Agora você... – o que estava à esquerda era mais difícil de encarar – Fico feliz que você esteja novamente ao meu lado,mesmo que seja desse seu jeito ocasionalmente presente. Mais quando você fica sozinho, menos do que eu gostaria ou precisaria. Espero que as coisas estejam tão claras e tranquilas pra você como estão pra mim. Fico plenamente satisfeita com essa nossa amizade, eu sendo super-sincera com você e não tendo medo de te falar qualquer coisa. Obrigada por estar aqui.

Ela pensou em quem seriam os próximos da lista para uma conversa imaginária franca, mas lembrou que a fila seria muito grande, então simplesmente olhou para o espelho. Os dois já não existiam ao seu lado e o único reflexo que ela podia ver era de uma mulher razoavelmente bonita. Uma ligeira surpresa, já que ela não estava totalmente certa das melhorias em sua auto-estima. Mas sim, ela era bonita. E havia amadurecido, pra reconhecer essas e outras qualidades. Ela também poderia ser engraçada, ter um senso de humor próprio, meio excêntrico, mas que agradava às pessoas mais próximas, aquelas que realmente interessavam. Inteligência também poderia entrar na lista, nada tão extraordinário, é claro, mas o suficiente pra ela conseguir muito do que queria profissional e academicamente até agora (descontando o fato de alternar períodos de empolgação intelectual com períodos de inércia mental, mas isso não era o suficiente pra que ela não se orgulhasse de sua capacidade cognitiva).

Depois de tanto tempo, estar novamente às voltas com auto-análises não era tão ruim como ela pensou que seria. Olhar-se dessa forma no espelho e ressaltar algumas boas características era saudável, pensar em como não havia motivos para ela querer uma vida diferente. Imaginar que nenhum problema ou nenhum falta de novidade seriam capazes de arrefecer seu ânimo ou vergar sua paciência em esperar o ano que estava por vir. Um turbilhão de mudanças, aliado ao medo do desconhecido, poderiam dobrá-la ao meio de ansiedade, mas até essa porção sua estava bem domada. O pouco de insegurança que vinha à tona vez por outra apenas servia pra reforçar suas crenças e fazê-la olhar para todas as direções de sua vida. O passado, seja ele recente ou uma mera lembrança longínqua, não deveria ter sido diferente, todos os erros a tornavam o que ela era hoje, e ela estava momentaneamente satisfeita consigo mesma. O futuro era desafiador, e isso a agradava ainda mais, pois, mutante como era, ansiava pelas novas mudanças, e via seu caminho bem traçado, com uma divisória bem marcada: a formatura. Ela se sentia caminhando morro acima para a beira do penhasco; o caminho, inicialmente tão íngreme, agora estava aplainando, e ela sabia que isso era porque o fim da trajetória estava próximo. E isso nos leva a pensar no presente, na caminhada; tudo era agradável e belo nesse final, alguns percalços aqui e ali, um pouco da ansiedade às vezes a fazia querer correr e pular logo, mergulhar de vez no ar, mas ela sabia que isso era besteira, que na hora certa ela pegaria o impulso e se jogaria de vez. Uma certeza ela tinha: não tentaria parar na beira do penhasco para espiar, não havia o que temer da queda, ela seria fisicamente inócua. Mas Deus é quem sabe no que resultará esse salto. E isso é o que importa. Não importa que ela não saiba, pois seu grande trunfo sempre foi a confiança, e talvez o único erro de que ela realmente se arrependa de ter cometido foi, em algum momento, não confiar plenamente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

05/02/2009

Pra não dizer que foi um dia improdutivo, diante do meu súbito desejo de postar e da minha irremediável incompetência pra escrever, aí vai um texto da época em que fiquei sem internet:

"Escrevo do auge da euforia. To me drogando.
Explico: tinha muito tempo que eu não parava pra ouvir música, só ouvia no caminho da faculdade o que tava no meu celular, com preguiça de renovar o repertório. Parei hoje pra escolher outro e comecei a ouvir várias músicas, de tudo quanto é tipo.
Parei no de sempre. E agora, às onze da noite, to numa pilha. Raul Seixas correndo na veia a mil, o CD: Carimbador Maluco. Meu preferido no momento.
Só a primeira música, DDI, já me fez rir sozinha de uma suposta ligação de Deus pra avisar que o encardido ta pra aparecer por aqui e os homens têm que parar de resmungar e agir, e ainda termina com Ele falando que tem que desligar porque já falou demais e o telefone ta caro.
Depois um clássico romântico (na maneira raulzítica de romantismo, claro): Coisas do Coração. Lindinha, meio melosa, mas na medida, uma das minhas preferidas na infância porque eu imaginava um cara chegando no navio pra reencontrar a amada e tal, embora a música não seja tão simplória.
Continua com Coração Noturno. Quebra o ritmo, pois mesmo que a anterior seja romantiquinha, não é devagar, e essa é quase parando, aliás, o contrário disso, é acordando. Literalmente. Começa numa preguiça e vai ficando mais animadinha, não em ritmo, mas em espírito, por assim dizer. “Bom dia! Dia!”
Depois, Não fosse o Cabral a coisa não tomaria rumo novamente. A música perfeita pra dar uma de guitar hero com o Rick Ferreira! E a música certa pro Marcelo Nova cantar no Baú do Raul, uma das poucas versões daquele CD que eu gostei, aliás. Embora ouvir o original não tenha comparação, uma declaração de patriotismo com muito amor e poesia.
E aí chega numa música que eu não entendo como meus pais me deixavam ouvir antigamente... (Se bem que eles me deixavam ouvir Rock das Aranhas, então não tem mesmo explicação). Quero Mais é engraçada, com trocadilhos e obscenidades, e a discussão pra terminar me diverte muito. “Ai, ai, ai! Eu quero é mais!”
Então Lua Cheia vem e quebra o ritmo de novo. Hoje ela não é assim minha preferida, mas a melhor coisa dessa música era a minha interpretação quando eu era criança, cantando e dançando, com gestos e passinhos, sem contar que, pra mim, “vil caipora” era o nome de duas pessoas, tipo “Vilca e Pora”. Pra você ver como eu alcançava o significado das letras.
E a música título do disco. Com teatralização, é óbvio! É aí que se tem a medida da minha infância feliz. Sempre que minha mãe a ouve, fala que era música que tava no auge na época em que ela e meu pai namoravam. Devia ser mesmo, o disco é de 1983. “Boa viagem, meninos! Boa viagem!”
Segredo da Luz é uma música que também exigia coreografias na minha infância. Tudo isso tem uma explicação: nas outras músicas mais agitadas, eu só pulava e cantava que nem uma maluca, tocando minha guitarra imaginária e batucando nos móveis; nas mais lentinhas só me restava coreografar o que o cara dizia, porque me pareciam assim poéticas e tal, e mereciam gestos amplos, com interpretação grandiosa da letra. Essa música em especial evolui pra uma balada que dá vontade de cantar fazendo caras e bocas ainda hoje, pena que já ta tarde e eu posso acordar os vizinhos.
“Minha cabeça só pensa aqui que ela aprendeu. Por isso mesmo eu não confio nela, eu sou mais eu!” Uma música falando uma coisa dessas é mesmo Aquela Coisa. Adoro! “Mas é preciso você tentar, talvez alguma coisa muito nova possa lhe acontecer. Vai fundo!”
Agora me explica a levada dessa música que vem em seguida: Eu sou Eu, Nicuri é o diabo. Das coisas sem sentido, essa é plus. Com uma pegada latina, com um tango no meio cantando Cambalache (outra ótima música, mas não ta nesse disco) em um espanhol (ou portunhol, não sei). Mas é pra chacoalhar os ombros e cantar que ele é ele, já o Nicuri...
Perto do fim, me faz o favor de plantar o tal do Capim Guiné! Foi com ela que eu descobri que macaxeira é aipim, ou mandioca. Muitos bichos e mais um clássico do Raul. Não tem muito que dizer, eu gosto e pronto.
Mas a Babilina é uma das melhores! Não dá pra descrever, tem que ouvir o cara pedindo pra amada sair do bordel! “Quando cê chega com a bolsa entupida de tutu, imagino quanta gente se deu bem no meu baú. Você me garante que não sente nada não, e que só comigo você tem satisfação.” E no melhor rock possível. Impagável! (ou não...)
E o disco fecha com uma gravação ao vivo, do Raul explicando como o rock começou, e me apresentando So Glad You’re Mine, música de Arthur 'Big Boy' Crudup gravada por Elvis Presley e agora por Raulzito. Nessas horas eu agradeço por conhecer essa gravação.
É isso. Termino o CD com uma sensação que não sei descrever com exatidão. Euforia é uma boa palavra, mas tem muito mais que isso. O cara é inalcançável, por mais que se faça hoje em dia. É claro que há todo lado sentimental (e até sentimentalóide) da coisa, um certo saudosismo, mas não há muitas coisas nessa vida que me façam tão bem e me deixem com essa sensação de alegria e até felicidade. To chapada.
(Mas vê se não vão anarquizar a minha reputação)"

Danielle, 05 de fevereiro de 09.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Assista, por favor.

Fiquei sem internet por um século e meio, mas confesso que já a tenho novamente há algum tempo. Minha ausência por aqui é por pura preguiça mesmo, porque idéias eu tive, vontade de escrever também. Ah, mas a preguiça, essa soberana, não me deixou.
Então resolvi, hoje, dar testemunho da produtividade da minha inércia: seriados! Descobri bons seriados nesses últimos tempos. Dois deles eu chamaria de excelentes (e usando essa palavra de maneira criteriosa, não como eu costumava usar antigamente): 30 Rock e The Big Bang Theory.
Aconselho dose plena, melhora seu humor e acho que também proporciona melhora da função cognitiva (mais pelas sacadas geniais do escritores das duas séries do que pelas piadinhas nerds de TBBT).
Sinceramente, assistir qualquer outra coisa hoje seria perda de tempo.
The Big Bang Theory tem produção executiva de Chuck Lorre, o mesmo cara de Two and a Half Men (outro imperdível), além disso, é da Warner Bros.A maioria dos personagens é nerd (do tipo clássico), mas também há meros mortais no meio dos gênios desajustados. Não vou falar muita coisa, mas só pra constar, caso alguém resolva assistir, meu preferido é o Sheldon (só ele valeria um novo post).
Já 30 Rock conta com um verdadeiro combo vindo direto do "Saturday Night Live", a começar pela maluca da Tine Fey, que escreve, produz e estrela como Liz Lemon. Mas tem também Tracy Morgan (como uma caricatura dele mesmo, Tracy Jordan), Scott Adsit (como Pete Hornberger, o produtor do programa) e Rachel Dratch (fazendo váááários papéis - o que é muito engraçado). Tem ainda Alec Baldwin como Jack Donaghy, o cara já estava bom em "As loucuras de Dick e Jane", agora ele está... Não sei bem como dizer, impagável é pouco, ele se reinventou! Eu não me surpreenderia se ele viesse a público dizer que na verdade ele é Jack Donaghy e até agora estava interpretando o Alec Baldwin A série toda fala dos bastidores de um programa de TV norte-americano, e não há melhor fonte de humor que essa.
Mais uma vez: aconselho.
Mas espero mesmo que você já tenha assistido!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Gosto muito de falar, falo demais, falo sempre. Nem sempre há nexo, nem sempre as pessoas ouvem, nem sempre eu consigo dizer exatamente o que eu gostaria. Mas ainda assim, não falo metade do que eu gostaria ou deveria dizer.
Você vai convivendo, assistindo a surdez seletiva alheia e acaba escolhendo se calar. Dá preferência a assuntos banais, e quando uma discussão mais importante começa, os egos estão tão inflados que tapam os ouvidos de quem discute.
Decidi postar isso aqui por causa do e-mail do Vinicius no grupo de discussão da Medicina da UFES. Ele deixou bem claro que tem optado pelo silêncio. Eu entendo perfeitamente, as pessoas daquela lista só têm dado ouvidos ao que convém e estufado o peito pra dizer o quão superiores são por ter passado no Vestibular (assim, com letra maiúscula). Um saco! Eu não tenho paciência pra me manifestar, e gostei muito que ele o tenha feito, pois foi muito mais eficiente e elegante (sim, Vini, elegante. ui! - uma coisa que tenho que dizer é que seu estilo de escrever tornou agradável e muito satisfatório ler um e-mail sobre um assunto tão desagradável). Ele disse o que tinha que ser dito, mas duvido que as pessoas leiam aquilo com imparcialidade, seus egos de aprovados no Vestibular e Alunos de Medicina da UFES bloquearão seus olhos, distorcendo a visão, fazendo do Vnicius um cúmplice do inimigo ou um pobre ingênuo enganado pelo grande Mal!
Esse é só um exemplo. O que eu tenho visto são exemplos muito mais próximos de mim. Não falo de pessoas que não gosto, falo de gente próxima e íntima, gente que me vê sempre, teoricamente deveria saber como me sinto, o que penso, me conhecer. Mas não conhece. Extrapolar o exemplo para uma lista de discussão é magnificar uma situação corriqueira de dificuldade de comunicação. Dificuldade minha, quero deixar claro, de ultrapassar barreiras que eu mesma crio para que as pessoas realmente me conheçam. Tive várias conversas nessa última semana, e em muitas delas eu fiquei insatisfeita com o resultado, fiquei pensando que deveria ter dito isso ou aquilo, mas acabei chegando à conclusão que não adiantaria, poderia piorar tudo, as pessoas selecionam o que ouvem e como ouvem, tudo acaba se tornando motivo pra que elas se sintam ofendidas e diretamente agredidas.
Tenho me calado seguidamente, me refugiado em um número extremamente limitado de reais confidentes, como se depositasse parcialmente a minha intimidade aqui e ali com confissões pela metade sobre assuntos que não são assim tão importantes. Vez por outra, um desabafo mal-direcionado escapa, e eu termino por me arrepender de ter aberto a minha boca, pois acabo sendo julgada e tendo o dedo apontado na minha cara mostrando que eu deveria fazer isso ou aquilo, e nunca concordo.
Então eu continuo falando, mas nada que realmente diga alguma coisa. Esbravejo por aí, reclamo que estou cansada, falo de uma coisa ou outra, mas isso nada mais é que um mutismo barulhento e conturbado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Da janela do meu quarto tenho que aguëntar dois cachorros, um cocker e um poodle, latindo às cinco da manhã. (Infernal, minha última hora de sono é sagrada, fico mal-humorada sem ela).
Da janela da minha cozinha tenho que agüentar a vizinha ouvindo Alexandre Pires.
Se fosse o contrário, eu dormiria na cozinha. Com certeza.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Escrevi um monte de coisas.
Apaguei tudo.
Meu cérebro tá cumprindo operação-tartaruga, só mantém 30% do efetivo habitual.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Café.
Irish coffee.
Café expresso (do italiano, "caffè espresso").
Mocha.

Tudo escrito nas minhas xícaras.
Tive que beber um litro.

Deve ser por isso que pintei minhas unhas de azul...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Você e ele

Olha só que coisa: às vezes você é a primeira pessoa que ele vê logo que acorda. Você entra no lugar onde ele dorme e chega ao ponto de acordá-lo. Quer que ele te conte como foi o seu dia ontem, sua noite, o que sentiu, como se alimentou, se está com alguma dor. Você tem a ousadia de querer que ele te fale das dores dele, dos gostos, das próprias impressões a respeito de si mesmo e de como vem passando. Você chega ao cúmulo da indiscrição de perguntar a respeito de suas necessidades mais fisiológicas e íntimas.
E ainda assim você tentar manter certo nível de impessoalidade. Nada de perguntas pessoais dele pra você, nada de conversa fiada, perda de tempo com um papo que não interesse pra sua história, seu raciocínio.
E vocês passam assim dez, quinze dias. Até que chega a um ponto limite e você não consegue deixar de ouvir a piada que ele conta, não deixa de comentar como o dia está frio, e até começa a perguntar sobre um ou outro membro da família dele que você por ventura conheceu.
Eu, particularmente, demoro bem menos que quinze dias pra me render a conversas assim, pergunto não só dos familiares que conheci, mas também dos que ele por acaso comentou que tem, não quero saber só se se alimentou bem, dormiu bem, teve febre ou dor, se está com falta de ar, essas coisas. Acabo falando de mim mesma, acabo querendo saber se ele tem algo mais que queira dizer. Não me transformo num muro das lamentações onde ele tem direito de chorar todas as suas mágoas, mas tenho a disposição de ouvir até o fim aquela pergunta que ele tem a fazer e tentar responder decentemente, tentar mostrar o que há por trás daquelas frases feitas do tipo “Estamos cuidando do seu caso” ou “A gente ta tratando o problema do senhor”. Na maioria das vezes eles querem mais que saber que estão em boas mãos, querem entender o que está acontecendo, por que as coisas estão sempre as mesmas, ou por que pioraram de repente. Não custa nem dez minutos a mais, algumas poucas vezes por semana, inteirá-lo da própria condição.
Talvez eu me exceda nos meus cuidados e nas minhas preocupações, talvez eu deixe passar outros aspectos importantes estando atenta demais ao que o paciente tem a dizer e de menos ao que eu ainda tenho que raciocinar e estudar para entender um caso, talvez eu passe por sérias dificuldades e encontre muitos problemas pela frente por me envolver tanto. Mas por enquanto tem valido a pena. E tem sido sincero e espontâneo, não acontece com qualquer paciente, só com aqueles com quem eu realmente me identifico.
Espero achar a dose certa. Para que eu nunca beire a frieza e para que esses meus excessos nunca sejam um inconveniente, interferindo negativamente na minha conduta ou trazendo a mim ou ao paciente qualquer tipo de prejuízo. Aos poucos vou aprendendo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

[Suspiro]

Olhe algo que você quer mas não deveria querer.
Sem apelos sentimentais, sem apegos sentimentais.
Apenas uma vontade que te cerca todos os dias e sorri pra você de um jeito bem canalha.

[Suspiro]


"Desejo

Necessidade e vontade

Necessidade e desejo

Necessidade e vontade

Necessidade..."



(Todos têm alguns desejos sórdidos e pouco confessáveis)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Olhei pra ele e pensei: "Putz, Romeu..." e, quase automaticamente emendei falando:
- Romeu, você não devia estar aí! Tá na minha frente, atrapalhando meu caminho!
Como ele não faz nada mesmo, fui eu lá e tirei o Romeu do lugar, tirei do meu caminho.
Mas não é que o Romeu seja assim tão inconveniente, fui eu que o larguei lá sozinho, e de lá ele não saiu.
Tadinho dele, parece até que estou reclamando. Não reclamo não! O Romeu é ótima companhia, agradável, não questiona as minhas manias e minhas atitudes erradas. Nem faz questão de apontar as contradições do meu discurso. Ele só fica aqui, me olhando, ocupando espaço, matando o tempo. Se quer saber, há dias nem reparava nele, e hoje percebi que ele está diferente, crescido, mais bonito...