sábado, 8 de outubro de 2011

Qualquer ser humano que trabalhe tem direito de reclamar da exaustão do serviço. O dia foi corrido no escritório, foi puxado na escola, cheio de problemas no comércio.
Agora, se um médico reclama que cansou, que o plantão exigiu demais, que um caso foi complicado, é obrigado a ouvir: "Mas você tá reclamando por quê? Você que escolheu ser médico, agora aguenta!"
Aí eu te pergunto: por acaso também não somos seres humanos? Essa mistificação da Medicina está adquirindo magnitudes estapafúrdias de super-profissão. A cobrança é progressiva, enquanto o reconhecimento é escasso. Cada vez mais vemos pessoas que nos enxergam como seus empregados, simplesmente porque pagam pelo plano de saúde, e acham que o respeito ao médico é uma demonstração de provincianismo. Paciente inteligente é paciente que consultou o Dr. Google antes de ir pra consulta, que testa o conhecimento do médico e decora detalhadamente os termos técnicos da sua provável doença. Sim, porque paciente "antenado" já sabe o que tem, e só procura o doutor (que nem doutor é, porque nem doutorado deve ter, vou chamá-lo pelo primeiro nome mesmo!) pra pegar a guia do plano, ou o pedido do SUS, pra fazer os exames que quer. Parece contraditório: por um lado, querem despir a Medicina do suposto glamour (que sempre foi ilusório, mas enfim) e afirmar que os salários médicos são abusivos; por outro, querem profissionais cada vez mais eficientes e gabaritados, em rotinas cada vez mais exaustivas.
Não me entendam mal, amo minha profissão. Eu realmente escolhi o meu caminho, e tenho orgulho de falar que batalhei cada dia e ainda vou batalhar muitos mais pra conseguir exercer a Medicina da forma que eu aprendi com grandes mestres na Universidade e com o respeito pelo próximo e por mim mesma que aprendi a cultivar ao longo da minha humilde vida profissional que, assim espero, está só começando. Apenas precisava desabafar, precisava por "no papel" esse esboço de manifesto pelo valorização, não do profissional médico, mas de todo e qualquer profissional que exerce suas funções com competência, como muitos de nós exercemos, e ainda assim sofre todos os tipos de pressão.
Vou ficando por aqui, pois não consegui pensar num desfecho pro assunto. Talvez porque simplesmente esse assunto ainda não tenha desfecho.

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