quarta-feira, 13 de maio de 2009

05/02/2009

Pra não dizer que foi um dia improdutivo, diante do meu súbito desejo de postar e da minha irremediável incompetência pra escrever, aí vai um texto da época em que fiquei sem internet:

"Escrevo do auge da euforia. To me drogando.
Explico: tinha muito tempo que eu não parava pra ouvir música, só ouvia no caminho da faculdade o que tava no meu celular, com preguiça de renovar o repertório. Parei hoje pra escolher outro e comecei a ouvir várias músicas, de tudo quanto é tipo.
Parei no de sempre. E agora, às onze da noite, to numa pilha. Raul Seixas correndo na veia a mil, o CD: Carimbador Maluco. Meu preferido no momento.
Só a primeira música, DDI, já me fez rir sozinha de uma suposta ligação de Deus pra avisar que o encardido ta pra aparecer por aqui e os homens têm que parar de resmungar e agir, e ainda termina com Ele falando que tem que desligar porque já falou demais e o telefone ta caro.
Depois um clássico romântico (na maneira raulzítica de romantismo, claro): Coisas do Coração. Lindinha, meio melosa, mas na medida, uma das minhas preferidas na infância porque eu imaginava um cara chegando no navio pra reencontrar a amada e tal, embora a música não seja tão simplória.
Continua com Coração Noturno. Quebra o ritmo, pois mesmo que a anterior seja romantiquinha, não é devagar, e essa é quase parando, aliás, o contrário disso, é acordando. Literalmente. Começa numa preguiça e vai ficando mais animadinha, não em ritmo, mas em espírito, por assim dizer. “Bom dia! Dia!”
Depois, Não fosse o Cabral a coisa não tomaria rumo novamente. A música perfeita pra dar uma de guitar hero com o Rick Ferreira! E a música certa pro Marcelo Nova cantar no Baú do Raul, uma das poucas versões daquele CD que eu gostei, aliás. Embora ouvir o original não tenha comparação, uma declaração de patriotismo com muito amor e poesia.
E aí chega numa música que eu não entendo como meus pais me deixavam ouvir antigamente... (Se bem que eles me deixavam ouvir Rock das Aranhas, então não tem mesmo explicação). Quero Mais é engraçada, com trocadilhos e obscenidades, e a discussão pra terminar me diverte muito. “Ai, ai, ai! Eu quero é mais!”
Então Lua Cheia vem e quebra o ritmo de novo. Hoje ela não é assim minha preferida, mas a melhor coisa dessa música era a minha interpretação quando eu era criança, cantando e dançando, com gestos e passinhos, sem contar que, pra mim, “vil caipora” era o nome de duas pessoas, tipo “Vilca e Pora”. Pra você ver como eu alcançava o significado das letras.
E a música título do disco. Com teatralização, é óbvio! É aí que se tem a medida da minha infância feliz. Sempre que minha mãe a ouve, fala que era música que tava no auge na época em que ela e meu pai namoravam. Devia ser mesmo, o disco é de 1983. “Boa viagem, meninos! Boa viagem!”
Segredo da Luz é uma música que também exigia coreografias na minha infância. Tudo isso tem uma explicação: nas outras músicas mais agitadas, eu só pulava e cantava que nem uma maluca, tocando minha guitarra imaginária e batucando nos móveis; nas mais lentinhas só me restava coreografar o que o cara dizia, porque me pareciam assim poéticas e tal, e mereciam gestos amplos, com interpretação grandiosa da letra. Essa música em especial evolui pra uma balada que dá vontade de cantar fazendo caras e bocas ainda hoje, pena que já ta tarde e eu posso acordar os vizinhos.
“Minha cabeça só pensa aqui que ela aprendeu. Por isso mesmo eu não confio nela, eu sou mais eu!” Uma música falando uma coisa dessas é mesmo Aquela Coisa. Adoro! “Mas é preciso você tentar, talvez alguma coisa muito nova possa lhe acontecer. Vai fundo!”
Agora me explica a levada dessa música que vem em seguida: Eu sou Eu, Nicuri é o diabo. Das coisas sem sentido, essa é plus. Com uma pegada latina, com um tango no meio cantando Cambalache (outra ótima música, mas não ta nesse disco) em um espanhol (ou portunhol, não sei). Mas é pra chacoalhar os ombros e cantar que ele é ele, já o Nicuri...
Perto do fim, me faz o favor de plantar o tal do Capim Guiné! Foi com ela que eu descobri que macaxeira é aipim, ou mandioca. Muitos bichos e mais um clássico do Raul. Não tem muito que dizer, eu gosto e pronto.
Mas a Babilina é uma das melhores! Não dá pra descrever, tem que ouvir o cara pedindo pra amada sair do bordel! “Quando cê chega com a bolsa entupida de tutu, imagino quanta gente se deu bem no meu baú. Você me garante que não sente nada não, e que só comigo você tem satisfação.” E no melhor rock possível. Impagável! (ou não...)
E o disco fecha com uma gravação ao vivo, do Raul explicando como o rock começou, e me apresentando So Glad You’re Mine, música de Arthur 'Big Boy' Crudup gravada por Elvis Presley e agora por Raulzito. Nessas horas eu agradeço por conhecer essa gravação.
É isso. Termino o CD com uma sensação que não sei descrever com exatidão. Euforia é uma boa palavra, mas tem muito mais que isso. O cara é inalcançável, por mais que se faça hoje em dia. É claro que há todo lado sentimental (e até sentimentalóide) da coisa, um certo saudosismo, mas não há muitas coisas nessa vida que me façam tão bem e me deixem com essa sensação de alegria e até felicidade. To chapada.
(Mas vê se não vão anarquizar a minha reputação)"

Danielle, 05 de fevereiro de 09.

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